domingo, 6 de maio de 2018

Como se viajava de Iguape para São Paulo 1855.

          Aqueles que não tinham coragem para enfrentar o mar grosso, de Iguape até Santos, viajavam para São Paulo através das praias desertas, dos rios e dos sertões de Peruíbe.
          O engenheiro do Governo Provincial, dr. Carlos Rath relata a viagem que fez de Iguape até Santos, em 1855.
          Eis que o dr. Rath escreveu:
          "Por exemplo, se se quer sahir de Iguape para São Paulo, toma-se um cavallo ou um carro puxado a bois, se há marés uma canoa, até o porto da Ribeira (1/3 de légua). D'alí toma-se uma canoa até o porto de desembarque (Suamirin) (5 léguas mais ou menos); d'alí toma-se a pé pela praia planissima da Jureia até o canal do rio Una do Prelado, aonde tem uns lugares poucos charcosos e algum capim (1/2 légua).
           Ali embarcado em canoa e passando pelas ruinas de uma guantidade de comportas ou Portões de madeira, com os quaes se pretendeo represar as aguas até o pé da praia (obra sem fundamento). Chega-se na sua embocadura e segue-se pelo rio Una, caminhando-se um dia todo pelas suas tortuosidades sempre a vista do Bauguaçu, Botucavarú e Javari (Itatins), por todos os lados até a embocadura de um ribeirãosinho, ao pé da barra de Una (12 léguas mais ou menos) Alí deixa a canoa, descança em casa de um morador do lugar, que dá condução para adiante toma-se um morro a pé ou en rede; (1.1/4 légua). Chega-se a um braço do rio Guarahu, que tem mui poca agua, alí embarca-se outra vez e toma-se o rio Guarahu, que tem pittorescas vistas e praias semeadas de passaros aguaticos, abundante de peixes e jacarés, até o cabo de Peruhibe, 3 léguas mais ou menos. Desembarca-se outra vez e sobe a pé um morro muito alto até o rio Peruhibe, (1.1/2 légua), também se pode passar esse morro em redes ou as vezes a cavallo, assim como os indios costumam quando se tem coragem ou vontade de morrer, a passar-se o cabo pela costa do mar grosso em cannoas, para evitar a subida do morro. Subindo o morro e descendo chega-se a praia que se toma a pé até os primeiros moradores da povoação de Peruhibe (1/3 de légua).
           Alí passa-se em canoa a foz do rio de Peruhibe para os ranchos dos moradores do lugar, onde pode-se pousar ou tomar um carro com bestas, digo uma carroça aberta puxada por bois ou bestas, e tomar a praia de noite ou de dia até a conceição(Itanhaem) 5 léguas mais ou menos.
          Chegando a Vila de Conceição, toma-se outra carroça continua a seguir pela praia da Conceição tendo alli feito 31 léguas mais ou menos de viagem.
          Da Conceição em diante tem que passar outra vez em carroças coberta puxadas de bestas para uma praia liza, plana até o porto de Piassabuçú (8 léguas). No Piassabuçú, deve parar e esperar a maré e então caminhando-se da praia para o porto de embarque do rio Piassabuçú (1/4 de légua, mais ou menos), e toma-se este rio ladoso e tortuoso até Santos ou Casgueiro, ou Cubatão (de 5 a 7 léguas) a este ultimo. D'ali vai-se a pé ou a cavallo ou liteira, Banguê ou sege, e quem sabe se em pouco tempo o faremos em carro a vapor.

          Texto extraído do livro História do Vale da Esperança, autor Paulo de Castro Laragnoit.
          Escrita da época, relato do Dr. Carlos Rath.



         Importante ressaltar que era essa situação em toda nossa região aqui no Vale da Ribeira para se chegar a capital da Província.