sábado, 31 de dezembro de 2011
Felipe Fernandes fundador de Juquiá.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Imagem do antigo Jardim de Juquiá.
Esta histórica imagem de Juquiá chegada as minhas mãos pelo Sr. José Fernandes da Silva, nos traz a tona uma Juquiá pacata mas maravilhosa.
Empalhamento de banana no rio Juquiá.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Pedra Fundamental para construção escola da Vila de Juquiá
Um grande acontecimento na época a construção da escola de Juquiá.
A pedra fundamental contou com pessoas ilustres da época, prefeito Olimpio Vassão, João Vassão, Athê Jorge Cury marcados na foto.
Athê foi um futebolista, goleiro do Santos F.C. e presidente do Santos durante décadas.
Nessa época era deputado estadual e participou desse grande feito para o nosso município, acho que vem dai a grande concentração de torcedores do Santos F.C. em Juquiá.
Imagem da apresentação do projeto e a marcação do lugar onde é hoje a escola.
Imagem fornecida por Jose Fernandes da Silva.
Escola de Juquiá nos primórdios de sua construção, ai desfilaram grandes nomes do corpo docente do nosso municipio que hoje são homenageados com seus nomes em ruas e escolas.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Construção da ponte de Juquiá.
Imagem da construção da ponte sobre o rio Juquiá no início da década de cinquenta.
Essa ponte embora popularmente conhecida como ponte do rio Juquiá o seu nome é Lucas Nogueira Garcez.
Uma homenagem ao governador da época,tendo em vista que foi um avanço muito grande para o transporte evitando as balsas e o transporte ficando mais rápido entre Registro, Juquiá, Tapirai e Piedade.
Foto cedida pelo Sr.Jose Fernandes da Silva.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Chafariz de Juquiá um patrimônio que tem História.
O chafariz de Juquiá é uma relíquia que foi doado para para a vila de Santo Antonio de Juquiá pela câmara municipal de Iguape em 1910.
Com a construção da ponte na década de cinquenta o lugar perdeu o movimento e administradores da época tiveram o cuidado de transferi-lo para um outro lugar ao lado do antigo cemitério.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Os Incas peruanos em Juquiá.
Árvores fruitiferas da mata ao redor e muitos passáros, lendo sobre os incas peruanos em juquiá fiquei imaginado como seria interessante conhecer o lugar que pode ser o vestígio de uma civilização antiga.
Note como é interessante o documentário.
- Os Incas Peruanos em Juquiá
Muitos mineradores eram mateiros de vasta experiência e conhecedores das centenas de trilhas que cortavam os sertões do Vale do Ribeira. Surpreendia a rapidez com que estes homens se movimentavam pela floresta virgem. De Sorocaba a São Miguel, Vacaria ou Correntes e atingindo o Paraguai, as distâncias eram cobertas em tempo recorde. Outras vezes, viagens muito rápidas eram feitas de São Vicente para São Paulo, Sorocaba, Botucatu, até o Iguaçu, sem que jamais se conseguisse explicação dos viajantes, que furavam, com asas nas pernas, os sertões inóspitos.
Em 1792, na Serra do Mar, em frente à baixada santista, o Governador da capitania de São Paulo, Bernardo José de Lorena, inaugurou um caminho entre o planalto e o mar. Esta obra foi realizada pelos oficiais do Real Corpo de Engenheiros de Portugal. A via seria utilizada por muitos anos para escoar a produção de açúcar que chegava ao Porto de Santos, em lombo de burro, com destino a Europa. Esta via passou a ser conhecida como “Calçadão do Lorena”. Ao lado desta estrada, entre o porto e a capital, desde Martim Afonso, sempre existiu o Caminho dos Índios Tupiniquins, que servia para o transporte de colonos, cargas e principalmente café. Muito utilizado pelos padres da Companhia de Jesus, ficou conhecido como “Caminho do Padre José”. Estes caminhos tinham origem desconhecida e se interligavam a outros, espalhando-se pelo planalto paulista e interior.
Mas, o segredo das jornadas espetaculares foi desvendado! Em 1833, um grupo de engenheiros e geógrafos, a serviço do Governo da Província de São Paulo, caminhava pelas matas de Juquiá, na Serra do Paranapiacaba e, cansados de perder tempo, abrindo caminhos por meio da mata fechada, desviando aqui e ali de enormes troncos de árvores, depararam com o que imaginaram ser uma mera vereda na mata, mas que na realidade era quase um leito carroçável, com oito palmos de largura, pavimentado, em alguns trechos, com pedregulhos de rio. A larga trilha havia sido encravada nas encostas dos morros e percorria grandes extensões, bifurcando-se em outras direções.
Seguindo por estas trilhas e saindo das proximidades de Xiririca, atingiram o Município de Iporanga e depois, em pouco tempo, ultrapassaram as terras de Apiaí, chegando ao Paranapanema e parando nas proximidades de Guarapuava. Não levaram, para isso, mais do que dois dias e meio de caminhada. Em partes do percurso a trilha era obstruída por desbarrancamentos ou então enormes paineiras e jequitibás. Algumas dessas árvores estavam somente com o toco dos troncos já apodrecidos, que preenchiam a largura total do pavimento. Nestes momentos os engenheiros tinham que fazer a volta, em meio círculo, e podiam notar que estes desvios eram de tempos mais recentes, não mais que algumas dezenas de anos. A atenção e curiosidade desses sertanistas foram dirigidas para as enormes e seculares árvores com mais de quatro metros de diâmetro, algumas tendo perecido já há muitos anos, que demonstravam o quanto remoto eram aqueles caminhos.
Em outros trechos, por subida mais íngreme, alguns degraus confeccionados com enormes pedras facilitavam aos viajantes transporem as elevações. Seguindo-se por estes caminhos, em seus lados, encontraram pequenas elevações com mais de cinco braças de altura, de forma piramidal; construídas com pedras, simetricamente aparadas e sobrepostas. Em uma das laterais, talhada nas rochas, uma estranha escrita em forma de desenhos e rabiscos. Aquela novidade não tinha, para eles, qualquer tipo de entendimento ou razão de ser. A certa altura da viagem, os engenheiros cruzaram com alguns viajantes conduzindo muitas mulas, que caminhavam pela estrada, no meio da mata fechada, com muita tranqüilidade. Por meio deles descobriram que muitas pessoas, moradoras no interior do sertão, construíram os alicerces de suas casas, utilizando-se das pedras destas picadas, motivo pelas quais as estranhas estradas encontravam-se fragmentadas em muitos trechos, o que com o tempo causava, gradativamente, o desaparecimento daquelas trilhas. Somente alguns anos depois é que ficaram sabendo sobre a origem e história de tais caminhos, chamados de Peabirus, pelos antigos indígenas.
Eram as trilhas perdidas dos Incas peruanos! De Cusco, coração do império, elas se espalhavam por todos os quadrantes da América do Sul. Uma delas, ao chegar nas proximidades de Ponta Grossa, bifurcava-se em ramais, seguindo para São Paulo, São Vicente, Iguape, Cananéia e Santa Catarina. As mais importantes, do ponto de vista político e econômico, eram pavimentadas, arborizadas com plantas frutíferas e constantemente patrulhadas. Nas rampas mais íngremes, os engenheiros peruanos edificavam degraus de pedra. No litoral do Pacífico, as estradas eram ladeadas por muros de alvenaria e o leito carroçável era revestido de pedregulhos de grande estabilidade.
No Vale do Ribeira e Santa Catarina, oitocentas léguas eram transpostas em sessenta dias, enquanto igual percurso por rio demorava mais de seis meses. Por isso, o próprio Francisco Pizarro, conquistador do império inca, não teve maiores dificuldades para abrir caminho por terras peruanas. Neste tempo, os incas já estavam se expandindo de forma irreversível, rumo leste, enviando na direção do Paraguai e do Brasil batedores aptos à abertura de estradas, a ser melhorada posteriormente, a fim de desbravar a região centro-sul no território brasileiro. Nas proximidades de São Vicente, por ocasião do descobrimento do Brasil, os portugueses já haviam se deparado com uma estrada primitiva, mas bem ordenada, com oito palmos de largura, que mergulhava na imensidão da floresta virgem, rumo ao desconhecido planalto paulista.
Em 1524, Aleixo Garcia realizou a primeira e mais extraordinária jornada bandeirante da história do Brasil. Arregimentou um exército de dois mil índios flecheiros, segundo controvérsias de historiadores, utilizando-se do Peabiru de Santa Catarina, Cananéia ou Iguape, partiu para sua assombrosa jornada em direção ao Peru e às fabulosas riquezas do Império Inca. O exército de flecheiros atacou com ardor os vilarejos de Sucre e Ptosi. Após encher cestos com taças de prata, peitorais de ouro e objetos de estanho, o grupo de guerrilheiros bateu em retirada, iniciando pelo Peabiru, a jornada de retorno a Santa Catarina. Mas ao chegar às margens do Rio Paraguai, a tropa foi atacada pelos temíveis Payaguás - índios extremamente ferozes, que dois séculos depois ficariam conhecidos com os “Piratas do Rio Paraguai”, aterrorizando os viajantes das monções, que a partir de 1720, partiam de São Paulo para Cuiabá. Neste combate, entre as centenas de mortos, estava o próprio Aleixo Garcia. Poucos sobreviventes puderam chegar à Santa Catarina portando as peças de prata e ouro saqueadas aos Incas.
Em uma reprise desta viagem, a primeira bandeira paulista que se tem conhecimento, partiu de Cananéia em agosto de 1531. Comandada pelo Capitão Pero Lobo e, trilhando pelo Peabiru, as tropas de 40 besteiros e 40 espingardeiros pretendiam capturar mais de 400 escravos indígenas, atacando para isso as aldeias limítrofes do Império Inca, localizadas a mais de 350 léguas a oeste dali. Cruzando o Rio Iguaçu, pouco acima de sua estrondosa foz, Pero Lobo entrou no território dos Payaguás. Os indígenas impediram o avanço da tropa e depois de atraí-los para campo aberto, mataram quase todos, inclusive o obstinado capitão. Os expedicionários sobreviventes, desarvorados, decidiram retroceder. Tornando ao Rio Paraná, foram recebidos pelos índios da região, os carijós, que com malícia e traição acabaram exterminando o restante da tropa, sendo, desta maneira, toda ela devorada pelo gentio antropófago.
Tempos depois, os Peabirus de Cananéia e Iguape passaram a ser freqüentados por nativos, portugueses, espanhóis e mineradores de ouro de Iporanga e Apiaí, tornando-se a principal via de comunicação entre a América espanhola e a metade meridional da América do Sul, visto que o Tratado de Tordesilhas fazia divisa com terras de Cananéia e Paranaguá. O Visconde de Taunay, tendo em mãos vários roteiros que pertenceram a Don Luiz Antônio de Souza, conseguiu reconstruir uma das trilhas perdidas assim: “Saindo de São Paulo, passando por Sorocaba, pela fazenda de Botucatu que foi dos padres da Companhia de Jesus, dirigindo-se a São Miguel, junto ao Paranapanema, e costeando esse rio pela esquerda, tocando em Encarnaciön, Santo Xavier e Santo Inácio, onde em canoa descia o Paranapanema e subia o Ivinheima até quase às sua nascentes, aí seguia, por terra, pela Vacaria, até as cabeceiras do Rio Aguaraí ou Correntes, tornando-se de novo fluvial, seguia por este afluente até o Paraguai, pelo qual subia...”.
Existia um caminho citado pelo historiador Alfredo Romário Martins que estabelecia outra rota para o Peabiru: “Ia de São Vicente, Piratininga, São Paulo, Sorocaba, Botucatu, Tibagi, Ivahí, Piqueri, donde bifurcava-se o caminho, indo um ramal para o sul, até o Iguaçu, no ponto em que este rio, na sua margem esquerda, recebe o Rio Santo Antonio”.
Das centenas de caminhos existentes, os engenheiros e geógrafos, a serviço do Governo da Província de São Paulo, conseguiram identificar aquele por onde caminharam até perto de Guarapuava, pois outro historiador, chamado Adolfo Augusto Pinto, por sua vez, assinalou a existência do maior sistema viário continental, pré-cabraliano, no qual, com certeza, se inseria o Peabiru de Juquiá: “Figurava como tronco deste primitivo sistema de viação geral uma grande estrada, pondo em ligação as tribos indígenas da nação guarani da bacia do Paraguai com a tribo dos Patos do litoral catarinense, ainda com índios carijós de Iguape e Cananéia e com as tribos de Piratininga e do litoral próximo”.
Vinte e dois anos depois dessa descoberta, em 1855, o naturalista francês João Mauricio Faivre fazia a seguinte publicação: “Quando abria no Ivahí a estrada entre Colônia Santa Teresa, Ponta Grossa e Guarapuava, descendo para o litoral paulista, encontrei um caminho de terra batida que pensei ser aberto por jesuítas da Companhia de Jesus, e que, em verdade, é de origem ignorada. Nas proximidades da cidade de Sorocaba, no interior, no morro de Araçoiaba, descobri uma verdadeira“pirâmide”, recoberta pela terra e pela vegetação, a qual, penso que seria um sinal de orientação aos caminhantes”.
Tempos depois, nesta “pirâmide”, alguns pesquisadores locais teriam constatado a existência de ideogramas desconhecidos e foram brindados também, com estranhas descobertas de cerâmicas indígenas, incisas e de fino talhe, bem como inúmeras urnas funerárias ou igaçabas, com técnicas artesanais completamente indistintas daquelas utilizadas pelas tribos, duzentas léguas mais próximas.
Obs: Relatos da Obras e histórias de Juquiá.Historiador Hermann Volpert.Um historiador que procura a anos encontrando relatos relacionado a nossa história que ao contrário do que muita gente possa imaginar é fantástica.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Enchente de 1951 em Juquiá.
Imagem fornecido pelo Sr. José Fernandes da Silva.
Enchente de 1951 em Juquiá, memórias de moradores antigos contam que foi a maior enchente que se tem notícia em Juquiá.
Esta imagem um recorte de jornal da época guardado como recordação da família Fernandes dá bem a dimensão do problema a estação de trem foi totalmente inundada ficando a cidade sem nenhuma comunicação.
A população ribeirinha que era maior na época, embora preparada para as cheias que normalmente aconteciam tiveram muitos prejuízos.
Até mesmo meu avô, António Leal das Neves perdeu uma casa de alvenaria em fase de acabamento foi totalmente arrastada com parte do terreno pelas águas.
A casa localizava perto onde é hoje o escadão da ponte o fato fez com que a família adiasse seu plano de morar na cidade por quatro anos.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Juquiá 1938.
Presumo isso porque o Sr. Paulo de Castro Lagronoit publicou em seu livro História do vale da esperança uma tela pintata por ele dessa histórica imagem.
Em 1938 Juquiá ainda não era municipio.
Vila de Santo Antonio de Juquiá,
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
O cemitério de Santo Antonio de Juquiá.
O cemitério de Santo Antonio de Juquiá, contruido em 1829, quardou por mais de cem anos os restos mortais dos pioneiros da civilização dos invios sertões, que naquela época longinqua cobriam esta região.
Quem conheceu aquele cemitério mal cuidado, entulhado de sepulturas, arruinadas pela ação do tempo, logo podia perceber que nem a morte iguala o homem, em sua vaidade,nem mesmo nos lugares mais pobres.
Naquele terreno santo, situado em terreno acidentado, os defuntos pertencentes a família mais afortunadas, foram sepultados na parte alta da colina, enquanto os mais pobres foram dormir o sono eterno na parte mais baixa do cemitério, nas proximidades dos charcos.
A noite o fogo-factuo apresentava-se em labaredas tênue e fugitivas assustando os moradores proximos.
Contan-se muitas histórias daquele cemitério.Uma delas é de um filho que teria matado a própria mãe com um tiro de espingarda. " Depois o morto virou corpo seco ", segundo a lenda. Diziam os mais antigos moradores da região, que o corpo seco permaneceu por muitos anos encostado em uma laranjeira, perto da entrada do cemitério, assustandos os vizitantes desprevinidos.
Ironizando o velho cemitério de Juquiá, Pedro Laragnoit dizia há cem anos.
"Juquiá também tem seu pere lachaise"
O progresso daquela vila determinou a mudança do cemitério para outro local, que embora mais retirado, apresentava-se mais adequado.
No local do antigo cemitério, a prefeitura municipal construiu uma praça pública, batizada com o nome de Presidente Castelo Branco hoje praça Manoel Soares da Costa.
Obs: Pere lachaise - famoso cemitério de Paris, onde estão sepultados vultos notáveis.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Foto bem antiga da estação de Juquiá.
domingo, 13 de novembro de 2011
Empalhamento de banana em Juquiá.
Ai um grupo de trabalhadores Japoneses empalhando banana para o vagão para ser levado à Santos onde seria exportado.
Antiga travessia da balsa de Juquiá.
Praça no centro da cidade de Juquiá.
Antiga igreja católica de Juquiá.
Panfleto de propaganda para angariar fundos para a construção da nova matriz, note que o projeto propunha uma matriz mais bonita com uma torre que até nos dias de hoje não foi construído, talvez a obra não tenha ainda sido totalmente acabada, já se passam muitos anos e o sino ainda não tem um lugar de destaque que seria essa torre que falta.
"Registros de 1973: Foi um grande acontecimento (prazer mórbido) para o povo daquela época um fato que ocorreu no dia 17 de março daquele ano. Iniciaram-se as obras de demolição da Capela de Juquiá. O prédio completava 144 anos de existência e, mesmo depois de muitas reformas que o descaracterizaram, foi o primeiro a ser erigido no Vale do Juquiá. Neste ano a graciosa igreja foi completamente demolida, em detrimento das gerações futuras, que muito iriam se ressentir de tamanha perda do patrimônio histórico de Juquiá."
Consta no Livro do Tombo da Igreja Católica:
“Dia 17 de março – sábado – Iniciamos a demolição da Igreja Velha de Santo Antonio. Um grupo de muitas pessoas concorreu. Está lavrada uma Ata no livro de obras da Nova Matriz. No fim do dia só restavam as paredes de pé. O material vai ser aproveitado. Há pessoas que ajudaram na construção da antiga Igreja e que hoje a estão demolindo.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Juquiá relatos do anuário de Stokler.
Mesmo diante do registro de biografias de antigos moradores do Juquiá ou de variados documentos escritos, não se sabe quando a realidade dos acontecimentos se envolve com as lendas ou com o folclore. Os relatos populares, passados de “boca em boca”, geração após geração, na maioria das vezes podem ser distorcidos ou suplantadas pela emoção do narrador. Outras vezes, os relatos seguem incólumes pelo tempo e são leais à realidade dos fatos acontecidos.
O “Annuário de Stokler” faz menção de um núcleo de negros foragidos que existia no Rio Guyromby, afluente do Juquiá. É interessante observar que, quando se fez o registro deste núcleo, o dito rio ainda mantinha dois nomes: Rio Guyromby (Guaromby) ou Quilombo. Segundo Stokler, essa tendência se caracterizou diante dos relatos de Martim, o segundo protetor dos índios cayuás, aldeados no Itariri, que, por sua vez, contaram a ele de um combate que se deu no Guyromby, onde todos os negros foragidos foram exterminados impiedosamente.
“Chegou em nossa caza o senhor Martim dos índios que mui é bom armeiro e conhecedor de armas todas e que delle precizavasse para dar utillidade em alguas que aqui se encontravão estragadas pello uzo. O Martim é mui conhecedor dos índios do Tariry e bom amigo delles e contou alguas cousas vividas pello povo do Tariry e que por essa épocha estão querendo destratar os do Juquiá. Contou elle que antes da épocha de Gusmão, amigo seo e dos índios, mui antes de occupar as gentes no entornos do Juquiá (1750) e asima, negros fogidos do Iguape e doutras regiões reunirãosse no Guyromby adentro para nelle habictar e formarão hua colônia delles que distava das cidades e occulta ficava de todos. Os fogidos que alli moravão erão em maes de quarenta delles e usavão o Guyromby na luz do dia e no Juquiá andavão com suas cannoas despos da noite chegada. Hum negro fogido andou de cannoa na prohibida luz do dia no Juquiá e foi elle surprehendido por outra cannoa com os índios do Tariry”. Stokler – 1832.
“O cativo fez frencte de tiro aos do Tariry para que elles fossem expulsos daquelle logar e não soubessem elles da povoação de fogidos no Guyromby. Os do Tariry não collocarão resistência e subirão o Juquiá com o negro fogido adentrando no Guyromby e deixando os do Tariry lhe perceber donde se hia elle. Alguns dias despos descerão os do Tariry com numero grande de cannoas e adentrarão o Guyromby e surprehenderão os cativos fogidos nas suas cazas e lhe derão matança de todos elles daquelle logar. Pouccos delles conseguirão dalli fogir para o mato e dous delles pedirão socorros ao velho Gusmão que apazigou a todos e fez delles irem para outro logar tempos despos. Ficou o Guyromby de nome dado pelos índios antigos com o uzo de outro nome que é do Quilombo, donde moravão os negros fogidos”. Stokler – 1832.
1835 - Os Índios Atacam o Povoado
Quando Cabral chegou ao Brasil, aqui existiam mais de quatro milhões de índios. Os colonizadores que se instalaram nas novas terras eram constituídos de degradados, desterrados e náufragos, iniciaram, desde 1500, uma matança indescritível, perseguindo todas as tribos que habitavam inicialmente o litoral. Cem anos depois, com os bandeirantes desbravando o interior dos sertões, em busca do ouro e pedras preciosas, milhares de índios foram feitos prisioneiros e levados para as plantações de cana de açúcar. No mercado brasileiro o índio não valia muito: trocava-se dois índios por um cativo negro e vinte deles por uma boa mula.
A maioria dos indígenas não aceitou esta situação constrangedora e os suicídios eram constantes. Sabedores da necessidade de se defenderem em grupos fortes, os índios se uniram aos franceses quando da invasão do Rio de Janeiro e aos holandeses quando estes tomaram Pernambuco. Enfim, traídos por portugueses, franceses e holandeses passaram a atacar quem lhes cruzasse o caminho. A raiva e a fúria com que tratavam o homem branco, que os desalojava de suas terras, tinha muita razão de ser.
No Vale do Rio Juquiá, nos primórdios do descobrimento, aconteceram os mesmos horrores causados aos demais índios do Brasil. Além da escravatura, a frenética busca do ouro nestas terras também colaborou para a dizimação da raça indígena que ainda existia no lugar e que era formada pela tribo cayná ou cayuá, do tronco tupi-guarani, que antes habitava em quase toda a costa do litoral paulista.
Índio Cayuá, em 1908.
Diante de tanta perseguição às suas tribos e destruição de seu habitat, por parte do europeu, era natural que os índios se revoltassem, mais uma vez, e tentassem destruir o opressor invasor de suas terras. Com a criação da Freguesia de Santo Antonio do Juquiá, levas de famílias começaram a se instalar na região, unindo-se aos “invasores” já existentes, que passaram a derrubar as matas dos índios e transitavam constantemente pelos rios, fazendo com que eles, os verdadeiros donos do lugar, passassem a se esconder e a construir suas aldeias o mais longe possível, sempre de maneira provisória, tornando-os mais nômades do que realmente o eram. Não demorou muito tempo e os nativos decidiram colocar um fim à evolução dos estrangeiros usurpadores.
“Estavão os França e João Filgueiras nhu’a caçada nas matas do São Lourenço quando forão surprehendidos pelo gentio selvagem na bera do dicto rio. Os homens não atirarão porque não havião conseguido tempo. Forão elles agarrados e postos no chão e de joelhos muita algazarra sefez sobre as suas cabeças. Pensarão elles morrer e encomendarãosse as suas almas a protecção de Deus. Os índios afundarão a cannoa e lhes fizerão correr de pontada de pao e baterão nas suas
costas e cabeças. Chegarão elles no Juquiá varando com difficuldade o mato alto. Disseme o Martim que não maes pode controllar os seos amigos índios que estão revoltados com as gentes do Juquiá por lhe invadirem as terras e de poucco caso fazerem delles”. Stokler – 1833.
Noutra feita, em fevereiro de 1834, no ribeirão do Poço Grande, os irmãos Pereira e Lourenço Fernandes (a quem imaginamos ser o avô de Felipe Fernandes e pai de Fernando Gomes, que foi o primeiro Juiz de Paz de Juquiá), caçavam e colhiam sementes de café em antigas árvores cafeeiras, que deviam estar ali plantadas há muito tempo, quando os índios os surpreenderam e os puseram para correr rio abaixo.
“Despos de matar dous caititus e com elles voltar a sua caza, os irmãos da família Pereira e o Lourenço Fernandes, velho que dizem avô de Felipe Fernandes e pae de Fernando Gomes, forão subindo o Juquiá e despos o São Lourenço até a barra do Tariry na cata de sementes de caffé nos pés de mui annos alli abandonados. Na barra do ribeirão do Poço Grande de Sima tiverão entrevero com os índios que lhe querião fazer matança e selhe fizerão frencte de tiro os sitiantes, estando os do Tariry em três canoas e quaze dez índios. A ninguém dos nossos elles ferirão e com tudo selhe collocarão em correria rio abaixo da barra que despos allertarão o povo do occorrido passado para que ficassem de sobreavizo dos índios que estavão bravios e perigozos”. Stokler – 1834.
Depois de ataques esparsos e isolados, no início de 1835, a 04 de fevereiro, a Freguesia de Santo Antonio do Juquiá foi atacada pelos índios cayuás do Itariri. Embora os moradores e sitiantes do lugar tivessem se defendido com galhardia, diante do grande número e violência indígena, bateram eles em retirada para as matas, sendo então a diminuta freguesia completamente saqueada e as casas incendiadas. Após a bandalheira, os índios se foram, deixando atrás de si a pequena povoação a ser reconstruída. A respeito desse acontecimento. O Jornal “O Sul Paulista”, de junho-julho de 1921, publicava a seguinte matéria:
“Entre os annos de 1825 e 1835, vieram ter no Valle do Rio Itariry, índios bravios, que alli commetiam toda sorte de depredações, atacando e roubando os destemidos aventureiros que para alli se dirigiam em procura de ouro ou tentavam fazer explorações agrícolas”.
Desse ataque, que devastou o pequeno povoado de Santo Antonio e outros sitios do Juquiá, Stokler fez referências minuciosas sobre a estratégia indígena utilizada, que surpreendeu os juquiaenses e não lhes deu condições eficazes de defesa. Esse embate quase vitimou primeiramente a família de Felipe Fernandes, que foi salva e avisada do ataque pelo alarido que fizeram as suas galinhas d’angola:
“Na manhãn daquelle dia do fevereiro os selvagens acharão por bem expulsar o povo do Juquiá. As pessoas dos sítios sabião que não tardaria a lucta porque muitas brigas e conflictos acontecerão no Juquiá asima e no São Lourenço porque as gentes querião habitar as terras boas do Tariry de onde os índios moravão e não lho consenttião. Com tudo elles os índios não descerão do Tariry e São Lourenço ao Juquiá. Vierão elles de rio abaixo da Pedra do Cavalo por caminho de terra na mata”. Stokler – 1835.
“De antes accultarão as embarcações na barra do São Lourenço e dahi vierão ter por terra volteando as picadas e grotas da serra e dando na Pedra do Cavalo despos do Juquiá, subindo a cometter das suas estripolias rio asima e fazendo primeiro soffrer o sitio do Fernandes e do seo pae Fernando Gomes que lhos roubarão conquanto antes as famílias delles forão seoccultar no mato porque lhe derão avizos as galinhas d’angola a quem os índios offenderão de pés e que ellas atravessarão o dicto rio voando e condemnando o ataque”. Stokler – 1835.
“Setinha conffiança o povo nas galinhas d’angola e mui gansos que seservião dar alarme e signal de invasão de estranhos. Da curva do rio abaixo elles os do Itariry gritavão phrases de vergonha forte e hião mui rápido que chegarão de surprhesa no outeiro. O povo fez frencte de tiro e por serem elles os índios em grande numero correo o povo despos para o mato e foi para esconder daquella gente não temmente a Deus e elles queimmarão as cazas primeiras do rio e despos subirão a collina da Capella que não lhe tocarão por estar trancada forte e não lhes foi consentido deitar fogo porque de novo se fizerão a cobertura de telhas de barro dias antes”. Stokler – 1835.
Embora jamais tenha sido mencionado na história de Iguape ou Juquiá, Martim dos Índios, contando na época sessenta anos de idade, mesmo chegando atrasado ao ataque, pois havia descido do Itariry, parando em todos os portos e avisando os sitiantes das intenções índias, tentou de todas as maneiras impedir que seus amigos cayuás continuassem com a sua missão de retaliação aos invasores. Stokler descreve o desespero de Martim em meio ao combate que desejava interromper, e o socorro prestado às vitimas, depois que os índios se retiram do morro da pequena Capela.
“Chegou do Tariry o Martim dos índios que antes avizou os povos da guerra dos amigos seos e veio elle na Freguezia para tentar parar a guerra e sobio elle mui tarde o morro da capella quando seos amigos tinhão ateado fogo a todo. Martim sefaz homem de sessenta annos e não conseguio fazer respeitar porquanto passarão seos amigos índios a empurral-o ao chão gritando alto e continuarão elles na covardia. Deitarão fogo nas cazas de pao e barro e palha, que antes procurarão por comida, roupas, armas e panelas”. Stokler – 1835.
“Matarão hum dos moradores que asima morava por se demorar este no fugir e que se fez despos o seo corpo queimmado dentro da caza. Despos elles descerão da Capella para roubar as cannoas e o barco de linha que antes pertencia a donna Catharina França que alli estava de poucco. Commeterão os actos e partirão os selvagens serindo e gritando sempre, alguns delles nas embarcações roubadas e outros delles pelos barrancos do rio. Despos de hidos os índios, o velho Martim dos índios que desanimado estava com seos amigos do Tariry chamou as gentes de volta e cuidou de ferimentos e das cazas com poucco fogo. Os índios subirão todos pello rio asima combatendo os sitiantes e matando delles alguns”. Stokler – 1835.
A 21 de fevereiro de 1835, passava por Juquiá uma expedição composta por 38 homens da Guarda Nacional. A tropa vinha de Iguape e era comandada pelo Capitão Agostinho Lourenço da Silva Doria. Esta tropa tinha a missão de se embrenhar nas matas do São Lourenço e Itariri para catequizar os indígenas. O Capitão Agostinho Doria era natural de Cuiabá. Sertanista, ele anteriormente havia andado as voltas com uma moradora de Juquiá. Era uma índia conhecida por Gertrudes Maria. Desse romance, em 1832, havia nascido um filho, a quem deram o nome de Tibiriçá, que, muitos anos depois, seria crismado com o nome de Luiz. Esse relato consta da obra “Iguape... Nossa História”, volume II, do historiador iguapense Roberto Fortes, e confirmado pelo “Annuário de Stokler”:
“Pedio o Juiz de Paz Fernando Gomes, feicto auctoridade de pouco, hum bom reforço do Iguape. Deo combate aos do Tariry o capitão Agostim Dória da Guarda Armada que por Juquiá andava a negociar sítios e terras e seservindo de caso com hu’a índia que lhe dera hum menino mestiço”. Stokler – 1835.
A força, ao subir o rio, ia se avolumando com os lavradores revoltados, de maneira que alguns destemidos juquiaenses foram e ela incorporados. Ao chegarem ao Vale do Itariri a expedição dividiu-se em duas, seguindo Lisbolio José com 16 homens para explorar a cabeceira de córregos e ribeirões. O Capitão Doria subiu pelo Guanhanhãn com 22 homens, até a Barra do Rio do Peixe e logo alcançou os indígenas, que aguardavam emboscados, travando com eles um terrível e violento combate. Os cayuás, protegidos pela mata, muito lhe peculiar, a todo o momento desferiam saraivadas de flechas sobre a força e os agricultores. A luta foi ferrenha, com os índios em maior número e abrigados pela mata, com ferocidade irracional, conseguindo debandar a força governamental, que se retirou do campo de batalha. Foram feridos Pedro José Paz, Ignácio Monteiro e Antonio José Dama, os dois primeiros, gravemente. O Capitão Doria transportou os feridos para a casa do alferes Bento Pupo, na Barra do Itariri, que lá ficaram para se restabelecer, mas onde, dias depois, faleceu o soldado lavrador Ignácio Monteiro.
“Elles subirão até o Tariry e forão batidos pelos índios, ficando acomettidos de doenças da mata quatro homens e o capitão e feridos no entrevero treis outros no violento combacte e delles hum vindo morrer no Tariry. Da parte dos índios se fizerão estragos grandes de feridos e não de mortos”. Stokler – 1835.
Como a expedição havia se dividido em duas, no dia 23, pretendendo o comandante seguir em socorro da escolta que ficara no mato, escreveu uma carta ao Juiz de Paz da Vila de Santo Antonio do Juquiá, o senhor Fernando José Gomes, pai de Felipe Fernandes, solicitando que viesse ver os soldados feridos em combate. Agostinho Doria solicitava, ainda, que lhe mandassem dois homens de Xiririca, que conheciam a língua dos índios e sabiam com eles tratar.
A história não deixou registros sobre o destino de Lisbolio José e seus 16 seguidores que haviam se separado do Capitão Dória e seus homens. Talvez tenham sido novamente incorporados à tropa ou, quem sabe, tivessem sido mortos pelos cayuás. Tanto pode ser verdade porque o Capitão Agostinho Doria não desistiu. Dias depois, acompanhado, desta feita, por vinte homens retornou às matas do Itariri. Depois de algumas incursões infrutíferas, no dia 05 de março encontrou com os índios. Ficaram ao longe, sem serem percebidos, ouvindo a gritaria no acampamento indígena e aprontando-se para atacá-los ao romper do dia seguinte. Mas, por volta da meia noite, irrompeu um grande temporal, que molhou e estragou os armamentos, pólvora e mantimentos. Completamente desarmada, a escolta deu meia volta e retornou para as canoas. Acontece que durante o temporal, o leito do rio subira incrivelmente rápido e levara as embarcações. A tropa foi obrigada a fazer uma canoa de jaraçatiá e jangadas de pau, atirando-se apressadamente, rio abaixo.
O comandante Doria comunicou o resultado da expedição ao Juiz de Paz Fernando José Gomes e este mandou que eles se recolhessem, pois haviam cumprido com os seus deveres. No dia 13 de março, o Juiz de Paz de Juquiá escreveu uma carta ao Presidente da Câmara de Iguape, para que a enviassem ao Presidente da Província de São Paulo, relatando o caso.
“Fez o Juiz de Paz de Juquiá voltarem as tropas e deo por encerrado as luctas pous os índios seretirarão despos e voltarão as tropas para Iguape c’o Dória ficando em caza de Lourenço Gomes por dous dias ainda”. Stokler – 1835.
Entretanto, poucos meses depois, em julho, os índios reapareceram no Itariri. O Juiz de Paz de Iguape, José Bonifácio de Andrade, pediu para que a Câmara fornecesse verbas para mais algumas libras de pólvora e chumbo, para que se pudesse derrotar os selvagens. O Presidente da Câmara, Manoel Duarte da Costa, promoveu o novo armamento e as tropas voltaram a dar combate ao gentio. Como os índios se dividissem em vários acampamentos, não durou muito e os cayuás foram finalmente derrotados e capturados, mas somente uma pequena parte deles. Levados para Iguape, os vencidos foram distribuídos entre as famílias do lugar, na condição de cativos.
Encerrando-se o último embate, daquele dia em diante, o governo achou por bem tentar apaziguá-los de outra maneira, infiltrando entre eles, índios mansos, intérpretes, vindos serra acima, para que civilizassem os aldeamentos do Rio Itariri e Rio do Peixe. Os moradores da Vila de Santo Antonio do Juquiá imaginaram que desta maneira poderiam, enfim, conseguir a paz tão desejada na região. Mas não foi fácil manter os índios capturados, que não se adaptavam à vida em sociedade. Oferecidos aos cidadãos de Iguape, estes, como nos conta o historiador Roberto Fortes, logo devolviam o “presente de grego” às autoridades. Stokler comenta o inglório destino dos orgulhosos índios capturados:
“Tempos despos voltarão os índios ao Tariry queimmando todo naquella região. Com o tempo despos os indígenas forão enfrenctados com a Guarda do Iguape com grande bulha e forão derrubados do Tariry e forão despos, hu’a parte daquelles bravios gentios, repartidos no Iguape como animaes, e outra parte maior continuando a habitar no Juquiá asima”. Stokler – 1835.
No ano de 1841, novamente o Juiz de Paz de Juquiá, ainda Fernando José Gomes, comunicou em ofício a Câmara de Iguape, lido em sessão de 12 de outubro, que os índios teriam novamente surgido no Itariri. A Câmara, então, autorizou Fernando José Gomes a destinar terrenos, para o estabelecimento dos indígenas. O lugar escolhido foi no Rio do Peixe, onde sempre estiveram, sendo os silvícolas legalmente ali instalados.
“Voltarão os do Tariry no anno de 41 no conflicto e queimmarão as cazas do rio asima e abaixo para que dessem de volta as terras que erão suas de antes e que forão novamente accupadas pelo povo. Assim foe feito por Iguape, com ajuda de Martim, hum accordo de medição das terras dos índios, quedando elles do Tariry para o sossego no Rio do Peixe de sima”. Stokler – 1841.
Mas a violência entre as partes continuou por muitos anos ainda, fazendo com que as famílias morassem agrupadas ou o mais perto possível uma das outras. O temor era tão grande que atingia até aqueles que nada tinham a dever. Lavradores ou aventureiros, que utilizavam os cursos dos rios, traziam acompanhantes indígenas mateiros, de outras tribos já pacificadas, ou mestiços, a bordo de suas canoas. Descobertos os intrusos detestados, no calor das emoções, eram identificados como espiões. A embarcação era barrada pelos moradores e, daí para frente, convencer a população ribeirinha da inocência dos mateiros, era obra para muito tempo. Segundo Stokler, alguns índios mateiros forasteiros, que serviam como guias a exploradores, foram mortos pelos juquiaenses:
“Estavão os sitiantes a temer o surgimento de qualquer hum dos índios que subissem o Juquiá ou delle descessem. Por duas vezes vierão ter no Juquiá pessoas que desbravavão terras asima e sefazião acompanhar de hum ou dous delles como bons mateiros e que nada tinhão com os do Tariry. Carregados de temor e raiva nelles incontidas os moradores paravão as embarcações e dellas tomavão os pobres índios debaixo de agressões que levavão a morte delles. As auctoridades ameaçarão prender a todos que fizessem estripulias a elles e o facto deo assim por encerrado com as mortes dos que vinhão”. Stokler – 1841.
As refregas entre índios e brancos, em escaramuças esparsas, à beira rio ou no interior da floresta, ainda perdurou por muitos anos, até 1843, quando então, mais uma vez, o Juiz Municipal de Iguape Francisco Carneiro da Silva Braga, em 12 de setembro daquele ano, comunicou ao Presidente da Província de São Paulo, que os selvagens do Distrito da Capela de Juquiá deitaram fogo às casas dos moradores daquele lugar. Foi criado um aldeamento entre os rios Itariri, do Peixe, Ribeirão da Tyaia, e vertentes as serra; possuindo aproximadamente três quartos de légua de comprimento e meia légua de largura. Para evitar futuras lutas, também foram nomeados interpretes dos mesmos, sendo um dos primeiros a assumirem o cargo o lavrador João Romualdo Lorena, que ali foi residir em companhia de sua esposa.
“Novamente voltarão os índios neste anno de 43 queimmando o povoado do Juquiá e dos sítios correndo com o povo do rio para o mato daquelle logar. Despos dos tempos ficarão sossegados na aldea em alliança c’o comando do Lorena”. Stokler – 1843.
Obs: Relatos da Obras e histórias de Juquiá.Historiador Hermann Volpert.Um historiador que procura a anos encontrando relatos relacionada a nossa história que ao contrário do que muita gente possa imaginar é fantástica.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Juquiá como tudo começou na visão de Stokler.
Atraídos pelas notícias de fertilidade das terras do Vale do Juquiá e pela facilidade de se instalar no lugar, visto que a maioria dos terrenos constituía-se de terras do governo, aos poucos, as famílias de agricultores começaram a se instalar na região. Em 1826 Stokler registrou a chegada de três novas famílias, entre elas, os Cunha, que seriam os precursores das redondezas do Pé da Serra.
“Chegarão no Juquiá alguas outras famílias que vierão aqui habitar com as gentes do logar. Eram Matheus Mandro, Jozé de Pontes Cunha e Pio da Cunha. Que trazião dous negros cativos e soffridos, com tudo de boa idade, que trabalhavão em seus assumptos com madeira e boas cannoas que fazem para seus donnos. E fizerão nichos de oração mui bem feitos e dados aos seus vizinhos conquanto lhe puzessem imagem sancta de quem o quizesse”. Stokler – 1826.
1827 – Sem Capela, a Violência Impera no Juquiá.
O desejo dos juquiaenses, para que se levantasse uma Capela no Juquiá, além da prestação dos serviços religiosos e espirituais, advinha da grande violência que imperava nas redondezas. A região era uma terra sem lei e sempre recebia visitas de garimpeiros desesperados, foragidos da justiça e criminosos de todas as espécies e personalidades. Diante do pulso firme de Fernando José Gomes, pai de Felipe Fernandes, os facínoras e demais invasores indesejáveis eram todos expulsos da região. Graças a esta autoridade nata, anos depois, Fernando José Gomes seria nomeado Juiz de Paz de Juquiá, então autoridade máxima do povoado.
“As gentes cristãns que se (sic) e pedirão aos França que fossem ao Igoape expor ao vigário daquella matriz da necessidade que tem os povos daqui rio abaixo e dalli rio asima e desses entornos todos para as rezas, casamentos, baptismos e crizmas, seus enterros que mui faltão e seressentem e recommendão todos do Juquiá hu’a capella catholica com seo dicto orago”. Stokler – 1827.
“Vierão ao Juquiá, de partida ao Tariry e nas suas serras, alguns homens que tratão o povo com phrases de sizudez e maldade que mui lhe cabia. Baterão elles nas portas atráz de esmollas e o que de comer e forãosse a todas as cazas pedir as esmollas. Fez bem o Fernando Gomes de não lhes dar attenção, lhes collocar frencte e os afastar do Juquiá. Porquanto forão elles subindo o São Lourenço e indo ao Tariry buscar ouro ou outras riquezas no cascalho daquellas serras e ágoas daquelles rios. Antes delles subio o rio o Martim dos índios para avizar os do Tariry da viagem dos estranhos”. Stokler – 1827.
“Despos de quinze dias veio bater nas portas por protecção hum daquelles homens que forão ao Tariry. Tinha elle hu’a das mãos estropiadas de paos que lhe derão na surra os índios daquelle logar que não lhes quizerão alliança e não acceitarão que alli ficassem e seefectivassem e que tanto baterão nos companheros seos que ficarão elles para traz, não sabendo o estropiado sehavião permanecido vivos naquellas matas”. Stokler – 1827.
1828 – Estrangeiros no Juquiá.
Depois da primeira tentativa para colonizar o Vale do Rio Juquiá, em 1576, com Pero Magalhães Mondavo, séculos depois, após a Proclamação da Independência, como não se conseguissem outras áreas melhores no Vale do Rio Ribeira, passou a predominar a preocupação com o povoamento das áreas longínquas e inóspitas. O Visconde de São Leopoldo estava convicto que a introdução de imigrantes era um grande benefício e não cogitou detalhes.
Em 1826, o Imperador D. Pedro I incumbiu o astuto e o inescrupuloso Von Schaeffer de obter na Europa soldados que pudessem lutar nas guerras do sul e lhe deu ordem também para trazer muitos colonos germânicos. Prometendo riquezas, honrarias, altos cargos e terras próprias, Von Schaeffer aliciou gente de todos os tipos nos Estados Meridionais da Alemanha, sobretudo na Baviera. Depois da viagem de seis meses ao Rio de Janeiro, foram recolhidos na Armação. Sem a menor consulta aos poderes da Província de São Paulo, em 1827, o Governo Imperial remeteu a ela os imigrantes, avisando que sua Majestade, o Imperador, mandava que tomasse as medidas necessárias para receber e alojar os colonos estrangeiros que partiam da Corte (Rio de Janeiro) para essa Província. Naquele ano desembarcaram em Santos 227 colonos, que se hospedaram em São Paulo, no “Hospital Militar”. O Governo da Província deveria escolher um local para a instalação da colônia. No ano seguinte, em 1828, chegavam mais 294 imigrantes. Um número razoável para a época.
A colônia deveria se instalar de forma a constituir um centro de aproximação entre as diversas localidades. Entre São Paulo, Santos e o Paraná
existia o Vale do Juquiá, com milhares de quilômetros desabitados. Sem dúvidas, seria ali o lugar mais adequado para a instalação.
O Diretor da Colônia, Dr. Justiniano de Mello, acompanhado de alguns líderes dos imigrantes alemães chegou em Iguape, em dezembro daquele ano, e sem mais delongas alugou duas canoas, subindo pelo Ribeira queria ele encontrar a Barra do Rio Juquiá. Deste trecho em diante, o diretor passou a discorrer sobre a fertilidade das terras que, em sua maioria eram devolutas e pertenciam à Província de São Paulo.
Segundo Stokler, mesmo antes de chegarem à barra do Rio São Lourenço os imigrantes presenciaram os índios cayuás, do Itariri, em meio de uma escabrosa dança sobre a Pedra do Cavalo, onde agradeciam ao seu deus pela abundância da caçada por eles realizada nas várzeas do Ipiranga. Os líderes dos imigrantes alemães, apavorados com a cena, e, pensando que seriam atacados pelos selvagens, decidiram que ali não comportava a instalação de colônia alguma.
“Apareceo no Juquiá, hu’a commitiva de gentes estrangeiras que querião habitar no Juquiá por ordem vinda do imperador e do Rio de Janeiro. Não quizerão elles escolher o logar com temor da falta de alliança aos índios que lhe fizerão frencte de danças na Pedra do Cavalo do Juquiá abaixo, por sua boa caçada feita no Ipiranga e que por mao entendido forão os índios por acharem os estrangeiros que estivessem elles em guerra e outros delles maes pella falta que sefaz de hu’a escolla e de outros atendimentos maes. Essas gentes não estão acostumadas ao callor e avermelhão as cores das faces com o poucco que faz neste mez de outubro. Forão de volta de immediato, sem mesmo alcançar accordo do rio São Lourenço. As gentes do Juquiá lhes passarão o temor que sentião”. Stokler – 1828.
A floresta densa e de fauna exuberante, o calor infernal e as constantes inundações, aliadas à falta total de qualquer posto de atendimento médico ou escola, além da presença hostil dos índios, fez com que aqueles imigrantes mudassem de idéia. O Vale do Rio Juquiá, desde os primórdios da colonização de São Paulo, era considerado a “Amazônia Paulista” e, portanto, distante dos sonhos de riquezas de qualquer colonizador estrangeiro. Assim, foi a colônia de imigrantes alemães se instalar no planalto paulista, em Santo Amaro, onde, em 50 anos, dispersou-se completamente. Fracassava, assim, a primeira tentativa de colonizar o Vale do Juquiá com imigrantes europeus.
Novas tentativas de formar colônias no Juquiá se fariam, mas somente uma, um século depois, daria bons resultados. Entretanto, as autoridades de São Paulo e Iguape não desanimaram, pois sabiam da necessidade de se formar um povoado no Juquiá, para que se resolvessem os obstáculos ocasionados pela grande distância da sede municipal e que pudesse dar sustentação a uma ramificação da administração pública municipal e religiosa, mesmo que de maneira provisória ou carente.
A intenção maior seria alavancar, de qualquer maneira, a ocupação e o desenvolvimento da região esquecida. As manifestações populares para a formação de novos povoados normalmente ocorriam para a criação de pequenas capelas que, após serem curadas e abastecidas de padres, devam provisões para as missas, casamentos, batismos e, enfim, uma enormidade de ações de cunho religioso e social. Nesse mesmo ano Stokler registrou a insistência com que os sitiantes do Juquiá manifestavam-se em Iguape, para que as autoridades religiosas criassem uma Capela na região.
“Forão no Igoape do mar no setembro passado hu’a commitiva do Juquiá alli rellatar ao vigário a necessidade d’hua capella no rio Juquiá que mui precizão as gentes do logar dos assumptos religiosos e que os de lá prommeterão para os annos próximos a attenção de installar a dicta capella pella supplica nossa”. Stokler – 1828.
Ainda em 1828, os registros de Stokler nos mostram o quanto perigoso era viver na região do Juquiá. Longe da civilização, como qualquer sertão brasileiro da época, as pendências eram resolvidas a bala e os assaltos se tornavam constantes. A descoberta de corpos de pessoas assassinadas era muito comum nas redondezas do Juquiá e nenhum registro policial se fazia desses casos, que, com o tempo, eram completamente esquecidos.
“Fezsse descoberta na isla da lagoa de Felipe Fernandes de dous homens que alli morrerão com ferimentos fructos de mosquetaria sem que lhes soubessem a cauza e sem quem lhe desse supplica dos corpos. Forão os defuntos enterrados no centro da dicta isla para que sesoubesse ao fucturo donde encontral-os de immediato”. Stokler – 1828.
1829 – É Requisitada a Criação da Capela.
Em 2004, o juquiaense João Cândido da Silva, descendente de Felipe Fernandes, que foi um dos primeiros moradores Vale do Juquiá, nos contou uma história interessante relatada por seu pai, João Fernandes da Silva, que, por sua vez, lhe foi passada de geração em geração.
“Como em toda região do Juquiá não vivessem mais do que cinco ou seis famílias e estas morassem a grande distância umas das outras, era preocupação geral entre esse povo para que se unissem como uma só família quando então teriam melhores chances de enfrentar os dissabores causados pelo total isolamento em que viviam. Dessa forma, para que os seus filhos se conhecessem, celebrassem amizades, apadrinhamentos, ou até se casassem, era necessário que as famílias tivessem motivos para se confraternizarem entre si”.
“Assim, os mutirões se fizeram necessários. As famílias se reuniam em determinados dias, pré-estabelecidos, e passavam um período de sete a oito dias na propriedade de alguém que fosse o sorteado ou escolhido. Nesse período, o dono da casa providenciava alimentação para todos que, em contrapartida, executavam serviços de roça, plantando arroz, feijão, milho, mandioca, ou fazendo uma derrubada num grande trecho de mata virgem. Os mutirões sempre acabavam aos sábados à tarde e, findo esse período, o dono da propriedade oferecia uma festa onde muito se comia e dançava. No domingo as pessoas juntavam suas tralhas e partiam de volta para suas casas, até que fossem convocados para outro mutirão”.
Os relatos atuais de João Candido da Silva são confirmados pelos registros que Stokler realizou em 1823:
“Chamão de mutirão os trabalhos de alliança que todos adherem, que fizerão derrubadas e talharão todos os paos da mata e ensinarão a construir o carvão que não se sabia. Despos de mez voltarão em attenção de acender fogo e queimmar todo o derrubado (...) Lidamos na roça d’outros para o mesmo signal de paga”.
João Cândido da Silva explicou, segundo relato de seus ancestrais, que o dinheiro era escasso ou não existia. Tudo era adquirido na base do escambo. Toma lá e dá cá! Mas havia muita fartura. Não faltava a carne de caça, peixe do rio, cereais, farinha de mandioca, verduras e variados animais e aves domésticas. Entretanto, o maior problema era realizar os casamentos familiares. O rapaz interessado em contrair matrimônio procurava pela modesta comunidade uma moça que lhe agradasse. Feita a descoberta da pretendida era só aguardar o próximo mutirão para, no baile de despedida, tentar uma aproximação. O moço então, sem que ninguém percebesse, resvalava rapidamente a mão no ombro da pretendida ou lhe jogava algumas pedrinhas nas costas. Se a moça sorrisse, este era o sinal de que havia aceitado o flerte. Então o pretendente conversava sobre o seu interesse com o seu pai e este comunicava ao pai da moça as reais intenções de seu filho. Com tudo acertado entre as partes, marcava-se o casamento. Mas aí começavam os problemas, conforme veremos nos relatos de João Cândido da Silva:
“Não existia Capela no Juquiá, e muito menos padre para casar os jovens. Quando o povo se reunia na casa de alguém, fazia ali as suas orações e prestava culto a Deus, sem que seguisse corretamente os rituais da Igreja Católica. Para batizar, crismar, casar ou fazer qualquer ato cristão, os juquiaenses tinham que viajar até Iguape, o que era muito difícil. Por causa disso, principalmente, muitos defuntos foram enterrados no sertão, ou chegavam em adiantado estado de decomposição ao cemitério da Freguesia de Iguape”.
Portanto, o povo do Juquiá precisava sem demora de uma Capela onde o padre pudesse prestar os misteres religiosos. Para que isso acontecesse os moradores, a cada vez que desciam até Iguape, conversavam com o padre, insistindo para que este fosse ao local e definisse a construção de uma nave religiosa e, assim, tirá-los daquela situação escabrosa. Os esforços envidados pelos moradores do Vale do Juquiá surtiram os efeitos desejados. Em 09 de janeiro de 1829, o Bispo de São Paulo, Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, baixou uma portaria que deveria ser obedecida por Iguape, “naqual manda ao vigário da Vara desta Vila que vá ao Rio Juquiá criar ali hua Capella Curada”. Dizia a Portaria Diocesana:
“Para satisfazer a requizição do Conselho Geral da Província, o qual expõem annualidade, que há do estabellecimento de hua Capella Curada na Povoação do Rio Juquiá, Destricto da Villa de Iguape, estar necessário, que o muito Reverendo Vigário da Vara daquella Commarca vá com o Escrivão de seo cargo ao lugar dezignado, e alli convocando os Povos daquelle contorno, eleijão louvados para dezignarem os Limites, número de Povos que se devem assignalar à dita Capella para o que ouvirá por escripto os Reverendos Parochos das Matrizes, de onde a mesma deve ser desmembrada e de tudo o mandará lavrar Termo, que será por todos assignados, no qual se declara, no cazo de haver alli Capellas, se está decentemente promptifficada para a Cellebração do Culto Divino, enquanto ainda não haja, se os Povos se obrigão a edifficá-la com a decência necessária: a que tudo assim cumprido nos transmittirá em Carta feixada, com informação sua, interpondo o seo parecer”.
“O que mandamos, que assim cumpra com urgência”.
Com as notícias vindas da Freguesia de Iguape, confirmando a futura ereção de uma Capela no Juquiá, os sitiantes do lugar ficaram eufóricos e começaram a fazer planos para receber o vigário da Matriz e a escolher um lugar adequado para a tão esperada instalação.
“Neste janeiro finnal chegarão noticias do Iguape da prommessa de adherir a hu’a capella que faltava no Juquiá e que há tempos pedião os povos do logar. Para o mez virá o vigário e sua gente demmarcar o sitio da capella e pedir ao povo que sefaça construir e crear a dicta capella onde possão devante rezar e receber outros misteres da igreja”. Stokler – 1829.
Preparou-se, então, João Crhysóstomo, Vigário Colado à Matriz de Iguape, para cumprir àquela determinação do Bispo. Dias depois, informava aos moradores do Vale do Juquiá da exigência Diocesana, conclamando o povo do lugar para que escolhesse um local, pois logo faria a visita, acompanhado do Escrivão de seu cargo.
1829 - O Sítio Pedrões de Pozo Alto
Desta forma, em princípios de 1829, o Bispo Diocesano Dom Manoel da Silva ordenou o levantamento do corpo de uma capela, em local a escolher. Mas existia a falta de pessoas interessadas que tivessem propriedades legalizadas para a doação de um lugar adequado, com amplos espaços para a formação de uma futura Freguesia, como assim exigiam as provisões do Bispo, visto que a região do Juquiá era um imenso sertão completamente desabitado e os seus raros moradores eram pessoas incultas e sem maiores ambições. Como a maioria das terras ribeirinhas pertencia a proprietários que nunca puseram os pés na região e nela pouco se interessavam, decidiu o Bispo que a Capela fosse erigida em local oferecido por quem de real interesse.
“Fizerão neste anno hu’a vizita no Juquiá o vigário do Iguape e seo escrivão sacramentado. O sancto homem João Crhysóstomo de Oliveira é mui attencioso e por maes mui calmo. Vizitousse todas as cazas dos sítios e sefez a elle o beija-mão de costume fazer e pediu elle a terra para a igreja do Iguape donde se vão dar construcção e crear a dicta capella. Por mais procurado não se encontra alli as dictas terras para attender c’os documentos de escripturação e posse. Permaneceo o padre e seo escrivão por alguns dias e maes por procurar sem encontrar quem de facto possuísse o precizo e necessário terreno. Seconverssou com o povo de Fernando José Gomes que se dignou fallar c’o seo filho Felipe Fernandes para os dias próximos que estava elle com mui boas vontades dalli situar hu’a capella com hum orago”. Stokler – 1829.
Desta forma, os moradores do lugar embarcaram em duas canoas, em companhia do vigário João Crhysóstomo de Oliveira Salgado Bueno e seu escrivão e saíram à procura de um lugar apropriado para construir a Capela. Stokler relata que após breve procura encontraram um bom lugar e o local, denominado Sítio Pedrões de Pôzo Alto, pertencia a Felipe Fernandes, filho de Fernando Gomes, que estavam na comitiva.
“Forão Fernando José Gomes, o Mandro e o escrivão da Matriz numa cannoa e noutra o Garcia, Felipe Fernandes e o vigário Chrysóstomo que me propuz com elles viajar rio asima nos entornos do sitio Pedroens de Pozo Alto do dicto Fernandes”.
A elevação escolhida era cercada por um enorme alagadiço, embora ficasse muito próxima ao rio. Dessa forma, por serem essas terras documentadas,
o padre João Crhysóstomo achou por bem lhe dar escolha e encerrar o caso da doação. Por seu lado, o senhor Felipe Fernandes, de bom grado, doou aquelas terras para a construção da futura Igreja, em louvor a Santo Antonio.
“Encontrandosse o terreno que attendesse a vontade do sancto homem num outeiro baixo da margem dereita de quem desce e que alli elle se resignou construir a capella. Por serem terras de archivos e escriptos authenticos e bons agradousse o vigário do Iguape e dispoz o Fernandes a doal-as e remettel-as a Matriz do Iguape”. Stokler – 1829.
E, assim, considerou-se que, na data da visita paroquial e escolha do lugar, tornava-se declarado que a
Freguesia do Rio Juquiá fôra fundada a 29 de fevereiro de 1829. Entretanto, por não se encontrarem registros e, diante do nosso calendário gregoriano, essa data histórica é polêmica!
Discrepância histórica
Já que estamos relatando datas e fatos históricos, vamos nos ater às confusões calendáricas que sempre ocorrem nos registros do passado. E, para exemplificar, vamos descrever um ajuste astral feito em nosso calendário.
O ano tem 365 dias e seis horas. Assim, esse saldo de seis horas, a cada quatro anos, completa 24 horas, ou seja, um dia. Em virtude desse acontecimento, para que não haja divergências ou inexatidão, a cada quatro anos é acrescentado um dia ao mês de fevereiro que, normalmente, tem 28 dias. Quando isso ocorre, o ano que sofreu reajuste de um dia chama-se “ano bissexto”. Assim, aquele mês de 28 dias, passa a ter 29 dias. Em fevereiro de 2004 foi ano bissexto e, em conseqüência disso, tivemos o dia 29 de fevereiro.
Mas, retroagindo ao tempo, até 1829, quando houve a fundação de Juquiá, poderemos constatar que naquele ano o mês de fevereiro só teve 28 dias, pois o ano bissexto sempre é par. No entanto, a data da fundação de Juquiá foi registrada por nossos antepassados como tendo sido ocorrida no dia 29 de fevereiro de 1829. Portanto, quem registrou a data cometeu um grave erro. Resta-nos a dúvida, pois, respeitando as definições do nosso calendário gregoriano, diante desse grave erro, o dia certo da fundação de Juquiá deve ter ocorrido a 28 de fevereiro ou 1º. de março, de 1829.
Faltam registros
Diante dessa incoerência de datas fomos pesquisar o acontecimento no Livro Tombo da Basílica de Iguape. E, em ordem cronológica, encontramos as seguintes informações. Como já foi citado, em 09 de janeiro de 1829 o Bispo de São Paulo, Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, baixou uma portaria que deveria ser obedecida por Iguape, “(...) na qual manda ao vigário da Vara desta Vila que vá ao Rio Juquiá criar ali hua Capella Curada”. Preparou-se, então, o padre, João Crhysóstomo, Vigário Colado à Matriz de Iguape para cumprir aquela missão. Cumprido o que lhe fôra ordenado, o padre João Crhysóstomo registrou:
“Tendo o Vigário da Vara dezempenhado a Comissão supra determinada, como participando o Exmo. he Rvmo. Prelado em data de 8 de 7bro. (08 de setembro – o grifo é nosso) do anno de 1829, possa agora fazer a seguinte declaração, ou termo sobre a mencionada Capella do Rio Juquiá”.
“Aos dez dias do mês de Outubro de mil oitocentos he trinta no Rio Juquiá, no lugar denominado Pedroens do Pôzo Alto (...), havendo cellebrado a primeira Missa no mencionado dia dez.(...)”
No Livro Tombo de Iguape nada consta sobre o dia 29 de fevereiro de 1829 como a data da fundação de Juquiá ou da visita e escolha do local para a ereção da Capela. E, como foi descrito acima, o único registro encontrado em ordem cronológica nos diz que em 08 de setembro do ano de 1829 o vigário João Crhysóstomo desempenhou a comissão determinada pelo Bispo de São Paulo, escolhendo um lugar adequado e mandando que ali se construísse uma capela.
O Livro Tombo da Igreja de Juquiá, desde a sua fundação até o ano de 1940, desapareceu misteriosamente, não nos deixando condições para pesquisar o fato. Contudo, a própria Diocese de Registro mantém um depoimento “feito de boca” por um antigo morador de Juquiá, que foi seguido à risca. A esse comentário, não sabemos como, pois nada descobrimos em nossas pesquisas, acrescentou-se um dia que nunca existiu no calendário, ou seja, o dia 29 de fevereiro do ano de 1829. Esta data, que nos parece ser aleatória, determinou o dia da fundação de Juquiá. O registro “feito de boca” constou no Boletim Diocesano nº. 57, de Registro, publicado em junho de 1983, encerrando o que somente “se disse”, e foi relatado por outro dos ancestrais de Felipe Fernandes, o irmão do senhor João Cândido da Silva, e nele se encerra:
“O senhor José Fernandes da Silva, antigo morador de Juquiá, conta o seguinte:Na metade do século passado os irmãos Fernandes – filhos de Fernando Gomes – embarcaram numa canoa, em companhia de um Padre, e saíram à procura de um lugar apropriado para construir a Igreja de Santo Antonio. As famílias daquele tempo se preocupavam muito para ter uma Igreja onde o Padre pudesse rezar a Missa e na qual eles pudessem fazer suas devoções, como sinal de sua fé profunda em Deus. Acharam bom o lugar onde se encontra hoje a Matriz. A área pertencia a Felipe Fernandes, filho de Fernando Gomes, que estava na comitiva. O senhor Felipe Fernandes declarou, na ocasião, que doava de bom grado, estas terras para a construção da Igreja de Santo Antonio”.
Portanto, também não existe neste depoimento a data da fundação de Juquiá ou o dia em que se deu a visita do vigário. Diante da discrepância calendárica a respeito da data e a falta de comprovação ao “29 de fevereiro” em todos os registros até aqui encontrados, havemos por bem que a data da visita paroquial para escolha do terreno, onde posteriormente foi construída a capela, tenha se dado “(...) em 8 de 7bro. do anno de 1829”, como assim registrou o padre João Crhysóstomo. Entretanto, segundo relatos de João Cândido da Silva, também descendente de Felipe Fernandes:
“(...) naquele dia, a comitiva sacerdotal de Iguape, que procurava um local para construir a capela e estava acompanhada pelos membros da família Fernandes, aportaram em uma bela praia de areias muito brancas, em frente a uma lagoa que era adornada por bonita ilha. Desta praia avistaram um morrote recoberto por densa mata virgem, onde habitavam muitos pássaros e vários animais, inclusive onças. O padre da comitiva encantou-se com o local e pediu que os Fernandes abrissem uma picada até o topo do morrote. Aberto o caminho pelo meio da mataria fechada o grupo chegou ao cimo desejado. Então alguém subiu em uma árvore e, lá de cima, comunicou ao padre que a visão era esplendida e que alcançava todo o Rio Juquiá, acima e abaixo. Satisfeito, o padre mandou abrir uma clareira e confeccionar uma provisória e tosca cruz, que foi erguida e benzida pelo sacerdote. A comitiva se ajoelhou e um breve culto foi realizado, abençoou-se o lugar escolhido, que foi prontamente doado por Felipe Fernandes”.
Muito interessante é o registro de Stokler que, em tudo, ratifica o depoimento que o senhor João Candido da Silva fez quase 180 anos depois. As histórias contadas, de geração em geração, pouco diferem dos reais acontecimentos da época.
“Paramos nu’a praia mui bonita maes hum poucco adeante do outeiro por não ter antes bom porto em frencte. Pedio o vigário abrir a mata e por alli subimos ao logar que de sima nada se via de vista porque a mata era mui feichada. O senhor Matheus Mandro subio num pao de figuera mui alto attendendo pela vontade do vigário de lá communicar a todos que a visão do rio prommetia de ser larga para a esquerda e dereita e de frencte sepodia ver as matas até as serras destantes. Abriusse hu’a clareira na mata no alto daquella elevação e fizemos alli a construcção de hum bom madeiro lavrado a machadim para o cruzeiro que levantamos”. Stokler – 1829.
“O vigário revestio a acção de graça hu’a oração de protecção ao logar para todo sempre ao senhor bom Deus que rezamos em curto tempo e de joelhos. Terminada a benção daquelle logar escolhido voltamos morro abaixo para a caza de Felipe Fernandes e seo pae. Do lado do outeiro encontravasse a lagoa da isla donde enterramos os dous corpos alli encontrados de pessoas estranhas ao logar que o vigário abençoou e deo uncção por achar terem coração e alma cristãn e foi elle despos satisfeicto de volta para o Iguape com o achado terreno da capella mandando aos nossos que construissem a capella e a elle voltassem a clamar quando promptifficada estivesse”. Stokler – 1829.
Antes da construção da Capela não existia um definido núcleo de povoado, pois os moradores instalavam-se ao longo do Rio Juquiá e seus afluentes. Após a construção da capela, com a sua Primeira Missa Oficial sendo realizada em 10 de outubro de 1830, iniciou-se, de fato, embora muito lentamente, o povoado da Freguesia de Santo Antonio do Rio Juquiá. Em razão destas versões e por falta de comprovação de outra data, visto que o dia “29 de fevereiro de 1829” simplesmente nunca existiu, o verdadeiro dia da Fundação de Juquiá deve ser comemorado a 08 de setembro de 1829, data da benção e culto pela escolha do local, ou a 10 de outubro de 1830, data da Primeira Missa, já na Capela de Juquiá!
Obs: Relatos da Obras e histórias de Juquiá.
Historiador Hermann Volpert.
Um historiador que procura a anos encontrando relatos relacionado a nossa história que ao contrário do que muita gente possa imaginar é fantástica.