quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Juquiá como tudo começou na visão de Stokler.

1826 – Novos Moradores Chegam ao Vale do Juquiá.

Atraídos pelas notícias de fertilidade das terras do Vale do Juquiá e pela facilidade de se instalar no lugar, visto que a maioria dos terrenos constituía-se de terras do governo, aos poucos, as famílias de agricultores começaram a se instalar na região. Em 1826 Stokler registrou a chegada de três novas famílias, entre elas, os Cunha, que seriam os precursores das redondezas do Pé da Serra.

“Chegarão no Juquiá alguas outras famílias que vierão aqui habitar com as gentes do logar. Eram Matheus Mandro, Jozé de Pontes Cunha e Pio da Cunha. Que trazião dous negros cativos e soffridos, com tudo de boa idade, que trabalhavão em seus assumptos com madeira e boas cannoas que fazem para seus donnos. E fizerão nichos de oração mui bem feitos e dados aos seus vizinhos conquanto lhe puzessem imagem sancta de quem o quizesse”. Stokler – 1826.

1827 – Sem Capela, a Violência Impera no Juquiá.

O desejo dos juquiaenses, para que se levantasse uma Capela no Juquiá, além da prestação dos serviços religiosos e espirituais, advinha da grande violência que imperava nas redondezas. A região era uma terra sem lei e sempre recebia visitas de garimpeiros desesperados, foragidos da justiça e criminosos de todas as espécies e personalidades. Diante do pulso firme de Fernando José Gomes, pai de Felipe Fernandes, os facínoras e demais invasores indesejáveis eram todos expulsos da região. Graças a esta autoridade nata, anos depois, Fernando José Gomes seria nomeado Juiz de Paz de Juquiá, então autoridade máxima do povoado.

“As gentes cristãns que se (sic) e pedirão aos França que fossem ao Igoape expor ao vigário daquella matriz da necessidade que tem os povos daqui rio abaixo e dalli rio asima e desses entornos todos para as rezas, casamentos, baptismos e crizmas, seus enterros que mui faltão e seressentem e recommendão todos do Juquiá hu’a capella catholica com seo dicto orago”. Stokler – 1827.

Vierão ao Juquiá, de partida ao Tariry e nas suas serras, alguns homens que tratão o povo com phrases de sizudez e maldade que mui lhe cabia. Baterão elles nas portas atráz de esmollas e o que de comer e forãosse a todas as cazas pedir as esmollas. Fez bem o Fernando Gomes de não lhes dar attenção, lhes collocar frencte e os afastar do Juquiá. Porquanto forão elles subindo o São Lourenço e indo ao Tariry buscar ouro ou outras riquezas no cascalho daquellas serras e ágoas daquelles rios. Antes delles subio o rio o Martim dos índios para avizar os do Tariry da viagem dos estranhos”. Stokler – 1827.

Despos de quinze dias veio bater nas portas por protecção hum daquelles homens que forão ao Tariry. Tinha elle hu’a das mãos estropiadas de paos que lhe derão na surra os índios daquelle logar que não lhes quizerão alliança e não acceitarão que alli ficassem e seefectivassem e que tanto baterão nos companheros seos que ficarão elles para traz, não sabendo o estropiado sehavião permanecido vivos naquellas matas”. Stokler – 1827.

1828 – Estrangeiros no Juquiá.

Depois da primeira tentativa para colonizar o Vale do Rio Juquiá, em 1576, com Pero Magalhães Mondavo, séculos depois, após a Proclamação da Independência, como não se conseguissem outras áreas melhores no Vale do Rio Ribeira, passou a predominar a preocupação com o povoamento das áreas longínquas e inóspitas. O Visconde de São Leopoldo estava convicto que a introdução de imigrantes era um grande benefício e não cogitou detalhes.

Em 1826, o Imperador D. Pedro I incumbiu o astuto e o inescrupuloso Von Schaeffer de obter na Europa soldados que pudessem lutar nas guerras do sul e lhe deu ordem também para trazer muitos colonos germânicos. Prometendo riquezas, honrarias, altos cargos e terras próprias, Von Schaeffer aliciou gente de todos os tipos nos Estados Meridionais da Alemanha, sobretudo na Baviera. Depois da viagem de seis meses ao Rio de Janeiro, foram recolhidos na Armação. Sem a menor consulta aos poderes da Província de São Paulo, em 1827, o Governo Imperial remeteu a ela os imigrantes, avisando que sua Majestade, o Imperador, mandava que tomasse as medidas necessárias para receber e alojar os colonos estrangeiros que partiam da Corte (Rio de Janeiro) para essa Província. Naquele ano desembarcaram em Santos 227 colonos, que se hospedaram em São Paulo, no “Hospital Militar”. O Governo da Província deveria escolher um local para a instalação da colônia. No ano seguinte, em 1828, chegavam mais 294 imigrantes. Um número razoável para a época.

A colônia deveria se instalar de forma a constituir um centro de aproximação entre as diversas localidades. Entre São Paulo, Santos e o Paraná

existia o Vale do Juquiá, com milhares de quilômetros desabitados. Sem dúvidas, seria ali o lugar mais adequado para a instalação.

O Diretor da Colônia, Dr. Justiniano de Mello, acompanhado de alguns líderes dos imigrantes alemães chegou em Iguape, em dezembro daquele ano, e sem mais delongas alugou duas canoas, subindo pelo Ribeira queria ele encontrar a Barra do Rio Juquiá. Deste trecho em diante, o diretor passou a discorrer sobre a fertilidade das terras que, em sua maioria eram devolutas e pertenciam à Província de São Paulo.

Segundo Stokler, mesmo antes de chegarem à barra do Rio São Lourenço os imigrantes presenciaram os índios cayuás, do Itariri, em meio de uma escabrosa dança sobre a Pedra do Cavalo, onde agradeciam ao seu deus pela abundância da caçada por eles realizada nas várzeas do Ipiranga. Os líderes dos imigrantes alemães, apavorados com a cena, e, pensando que seriam atacados pelos selvagens, decidiram que ali não comportava a instalação de colônia alguma.

Apareceo no Juquiá, hu’a commitiva de gentes estrangeiras que querião habitar no Juquiá por ordem vinda do imperador e do Rio de Janeiro. Não quizerão elles escolher o logar com temor da falta de alliança aos índios que lhe fizerão frencte de danças na Pedra do Cavalo do Juquiá abaixo, por sua boa caçada feita no Ipiranga e que por mao entendido forão os índios por acharem os estrangeiros que estivessem elles em guerra e outros delles maes pella falta que sefaz de hu’a escolla e de outros atendimentos maes. Essas gentes não estão acostumadas ao callor e avermelhão as cores das faces com o poucco que faz neste mez de outubro. Forão de volta de immediato, sem mesmo alcançar accordo do rio São Lourenço. As gentes do Juquiá lhes passarão o temor que sentião”. Stokler – 1828.

A floresta densa e de fauna exuberante, o calor infernal e as constantes inundações, aliadas à falta total de qualquer posto de atendimento médico ou escola, além da presença hostil dos índios, fez com que aqueles imigrantes mudassem de idéia. O Vale do Rio Juquiá, desde os primórdios da colonização de São Paulo, era considerado a “Amazônia Paulista” e, portanto, distante dos sonhos de riquezas de qualquer colonizador estrangeiro. Assim, foi a colônia de imigrantes alemães se instalar no planalto paulista, em Santo Amaro, onde, em 50 anos, dispersou-se completamente. Fracassava, assim, a primeira tentativa de colonizar o Vale do Juquiá com imigrantes europeus.

Novas tentativas de formar colônias no Juquiá se fariam, mas somente uma, um século depois, daria bons resultados. Entretanto, as autoridades de São Paulo e Iguape não desanimaram, pois sabiam da necessidade de se formar um povoado no Juquiá, para que se resolvessem os obstáculos ocasionados pela grande distância da sede municipal e que pudesse dar sustentação a uma ramificação da administração pública municipal e religiosa, mesmo que de maneira provisória ou carente.

A intenção maior seria alavancar, de qualquer maneira, a ocupação e o desenvolvimento da região esquecida. As manifestações populares para a formação de novos povoados normalmente ocorriam para a criação de pequenas capelas que, após serem curadas e abastecidas de padres, devam provisões para as missas, casamentos, batismos e, enfim, uma enormidade de ações de cunho religioso e social. Nesse mesmo ano Stokler registrou a insistência com que os sitiantes do Juquiá manifestavam-se em Iguape, para que as autoridades religiosas criassem uma Capela na região.

Forão no Igoape do mar no setembro passado hu’a commitiva do Juquiá alli rellatar ao vigário a necessidade d’hua capella no rio Juquiá que mui precizão as gentes do logar dos assumptos religiosos e que os de lá prommeterão para os annos próximos a attenção de installar a dicta capella pella supplica nossa”. Stokler – 1828.

Ainda em 1828, os registros de Stokler nos mostram o quanto perigoso era viver na região do Juquiá. Longe da civilização, como qualquer sertão brasileiro da época, as pendências eram resolvidas a bala e os assaltos se tornavam constantes. A descoberta de corpos de pessoas assassinadas era muito comum nas redondezas do Juquiá e nenhum registro policial se fazia desses casos, que, com o tempo, eram completamente esquecidos.

Fezsse descoberta na isla da lagoa de Felipe Fernandes de dous homens que alli morrerão com ferimentos fructos de mosquetaria sem que lhes soubessem a cauza e sem quem lhe desse supplica dos corpos. Forão os defuntos enterrados no centro da dicta isla para que sesoubesse ao fucturo donde encontral-os de immediato”. Stokler – 1828.

1829 – É Requisitada a Criação da Capela.

Em 2004, o juquiaense João Cândido da Silva, descendente de Felipe Fernandes, que foi um dos primeiros moradores Vale do Juquiá, nos contou uma história interessante relatada por seu pai, João Fernandes da Silva, que, por sua vez, lhe foi passada de geração em geração.

“Como em toda região do Juquiá não vivessem mais do que cinco ou seis famílias e estas morassem a grande distância umas das outras, era preocupação geral entre esse povo para que se unissem como uma só família quando então teriam melhores chances de enfrentar os dissabores causados pelo total isolamento em que viviam. Dessa forma, para que os seus filhos se conhecessem, celebrassem amizades, apadrinhamentos, ou até se casassem, era necessário que as famílias tivessem motivos para se confraternizarem entre si”.

“Assim, os mutirões se fizeram necessários. As famílias se reuniam em determinados dias, pré-estabelecidos, e passavam um período de sete a oito dias na propriedade de alguém que fosse o sorteado ou escolhido. Nesse período, o dono da casa providenciava alimentação para todos que, em contrapartida, executavam serviços de roça, plantando arroz, feijão, milho, mandioca, ou fazendo uma derrubada num grande trecho de mata virgem. Os mutirões sempre acabavam aos sábados à tarde e, findo esse período, o dono da propriedade oferecia uma festa onde muito se comia e dançava. No domingo as pessoas juntavam suas tralhas e partiam de volta para suas casas, até que fossem convocados para outro mutirão”.

Os relatos atuais de João Candido da Silva são confirmados pelos registros que Stokler realizou em 1823:

Chamão de mutirão os trabalhos de alliança que todos adherem, que fizerão derrubadas e talharão todos os paos da mata e ensinarão a construir o carvão que não se sabia. Despos de mez voltarão em attenção de acender fogo e queimmar todo o derrubado (...) Lidamos na roça d’outros para o mesmo signal de paga”.

João Cândido da Silva explicou, segundo relato de seus ancestrais, que o dinheiro era escasso ou não existia. Tudo era adquirido na base do escambo. Toma lá e dá cá! Mas havia muita fartura. Não faltava a carne de caça, peixe do rio, cereais, farinha de mandioca, verduras e variados animais e aves domésticas. Entretanto, o maior problema era realizar os casamentos familiares. O rapaz interessado em contrair matrimônio procurava pela modesta comunidade uma moça que lhe agradasse. Feita a descoberta da pretendida era só aguardar o próximo mutirão para, no baile de despedida, tentar uma aproximação. O moço então, sem que ninguém percebesse, resvalava rapidamente a mão no ombro da pretendida ou lhe jogava algumas pedrinhas nas costas. Se a moça sorrisse, este era o sinal de que havia aceitado o flerte. Então o pretendente conversava sobre o seu interesse com o seu pai e este comunicava ao pai da moça as reais intenções de seu filho. Com tudo acertado entre as partes, marcava-se o casamento. Mas aí começavam os problemas, conforme veremos nos relatos de João Cândido da Silva:

“Não existia Capela no Juquiá, e muito menos padre para casar os jovens. Quando o povo se reunia na casa de alguém, fazia ali as suas orações e prestava culto a Deus, sem que seguisse corretamente os rituais da Igreja Católica. Para batizar, crismar, casar ou fazer qualquer ato cristão, os juquiaenses tinham que viajar até Iguape, o que era muito difícil. Por causa disso, principalmente, muitos defuntos foram enterrados no sertão, ou chegavam em adiantado estado de decomposição ao cemitério da Freguesia de Iguape”.

Portanto, o povo do Juquiá precisava sem demora de uma Capela onde o padre pudesse prestar os misteres religiosos. Para que isso acontecesse os moradores, a cada vez que desciam até Iguape, conversavam com o padre, insistindo para que este fosse ao local e definisse a construção de uma nave religiosa e, assim, tirá-los daquela situação escabrosa. Os esforços envidados pelos moradores do Vale do Juquiá surtiram os efeitos desejados. Em 09 de janeiro de 1829, o Bispo de São Paulo, Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, baixou uma portaria que deveria ser obedecida por Iguape, “naqual manda ao vigário da Vara desta Vila que vá ao Rio Juquiá criar ali hua Capella Curada”. Dizia a Portaria Diocesana:

“Para satisfazer a requizição do Conselho Geral da Província, o qual expõem annualidade, que há do estabellecimento de hua Capella Curada na Povoação do Rio Juquiá, Destricto da Villa de Iguape, estar necessário, que o muito Reverendo Vigário da Vara daquella Commarca vá com o Escrivão de seo cargo ao lugar dezignado, e alli convocando os Povos daquelle contorno, eleijão louvados para dezignarem os Limites, número de Povos que se devem assignalar à dita Capella para o que ouvirá por escripto os Reverendos Parochos das Matrizes, de onde a mesma deve ser desmembrada e de tudo o mandará lavrar Termo, que será por todos assignados, no qual se declara, no cazo de haver alli Capellas, se está decentemente promptifficada para a Cellebração do Culto Divino, enquanto ainda não haja, se os Povos se obrigão a edifficá-la com a decência necessária: a que tudo assim cumprido nos transmittirá em Carta feixada, com informação sua, interpondo o seo parecer”.
“O que mandamos, que assim cumpra com urgência”.

Com as notícias vindas da Freguesia de Iguape, confirmando a futura ereção de uma Capela no Juquiá, os sitiantes do lugar ficaram eufóricos e começaram a fazer planos para receber o vigário da Matriz e a escolher um lugar adequado para a tão esperada instalação.

“Neste janeiro finnal chegarão noticias do Iguape da prommessa de adherir a hu’a capella que faltava no Juquiá e que há tempos pedião os povos do logar. Para o mez virá o vigário e sua gente demmarcar o sitio da capella e pedir ao povo que sefaça construir e crear a dicta capella onde possão devante rezar e receber outros misteres da igreja”. Stokler – 1829.

Preparou-se, então, João Crhysóstomo, Vigário Colado à Matriz de Iguape, para cumprir àquela determinação do Bispo. Dias depois, informava aos moradores do Vale do Juquiá da exigência Diocesana, conclamando o povo do lugar para que escolhesse um local, pois logo faria a visita, acompanhado do Escrivão de seu cargo.

1829 - O Sítio Pedrões de Pozo Alto

Desta forma, em princípios de 1829, o Bispo Diocesano Dom Manoel da Silva ordenou o levantamento do corpo de uma capela, em local a escolher. Mas existia a falta de pessoas interessadas que tivessem propriedades legalizadas para a doação de um lugar adequado, com amplos espaços para a formação de uma futura Freguesia, como assim exigiam as provisões do Bispo, visto que a região do Juquiá era um imenso sertão completamente desabitado e os seus raros moradores eram pessoas incultas e sem maiores ambições. Como a maioria das terras ribeirinhas pertencia a proprietários que nunca puseram os pés na região e nela pouco se interessavam, decidiu o Bispo que a Capela fosse erigida em local oferecido por quem de real interesse.

Fizerão neste anno hu’a vizita no Juquiá o vigário do Iguape e seo escrivão sacramentado. O sancto homem João Crhysóstomo de Oliveira é mui attencioso e por maes mui calmo. Vizitousse todas as cazas dos sítios e sefez a elle o beija-mão de costume fazer e pediu elle a terra para a igreja do Iguape donde se vão dar construcção e crear a dicta capella. Por mais procurado não se encontra alli as dictas terras para attender c’os documentos de escripturação e posse. Permaneceo o padre e seo escrivão por alguns dias e maes por procurar sem encontrar quem de facto possuísse o precizo e necessário terreno. Seconverssou com o povo de Fernando José Gomes que se dignou fallar c’o seo filho Felipe Fernandes para os dias próximos que estava elle com mui boas vontades dalli situar hu’a capella com hum orago”. Stokler – 1829.

Desta forma, os moradores do lugar embarcaram em duas canoas, em companhia do vigário João Crhysóstomo de Oliveira Salgado Bueno e seu escrivão e saíram à procura de um lugar apropriado para construir a Capela. Stokler relata que após breve procura encontraram um bom lugar e o local, denominado Sítio Pedrões de Pôzo Alto, pertencia a Felipe Fernandes, filho de Fernando Gomes, que estavam na comitiva.

Forão Fernando José Gomes, o Mandro e o escrivão da Matriz numa cannoa e noutra o Garcia, Felipe Fernandes e o vigário Chrysóstomo que me propuz com elles viajar rio asima nos entornos do sitio Pedroens de Pozo Alto do dicto Fernandes”.

A elevação escolhida era cercada por um enorme alagadiço, embora ficasse muito próxima ao rio. Dessa forma, por serem essas terras documentadas,

o padre João Crhysóstomo achou por bem lhe dar escolha e encerrar o caso da doação. Por seu lado, o senhor Felipe Fernandes, de bom grado, doou aquelas terras para a construção da futura Igreja, em louvor a Santo Antonio.

Encontrandosse o terreno que attendesse a vontade do sancto homem num outeiro baixo da margem dereita de quem desce e que alli elle se resignou construir a capella. Por serem terras de archivos e escriptos authenticos e bons agradousse o vigário do Iguape e dispoz o Fernandes a doal-as e remettel-as a Matriz do Iguape”. Stokler – 1829.

E, assim, considerou-se que, na data da visita paroquial e escolha do lugar, tornava-se declarado que a

Freguesia do Rio Juquiá fôra fundada a 29 de fevereiro de 1829. Entretanto, por não se encontrarem registros e, diante do nosso calendário gregoriano, essa data histórica é polêmica!

Discrepância histórica

Já que estamos relatando datas e fatos históricos, vamos nos ater às confusões calendáricas que sempre ocorrem nos registros do passado. E, para exemplificar, vamos descrever um ajuste astral feito em nosso calendário.

O ano tem 365 dias e seis horas. Assim, esse saldo de seis horas, a cada quatro anos, completa 24 horas, ou seja, um dia. Em virtude desse acontecimento, para que não haja divergências ou inexatidão, a cada quatro anos é acrescentado um dia ao mês de fevereiro que, normalmente, tem 28 dias. Quando isso ocorre, o ano que sofreu reajuste de um dia chama-se “ano bissexto”. Assim, aquele mês de 28 dias, passa a ter 29 dias. Em fevereiro de 2004 foi ano bissexto e, em conseqüência disso, tivemos o dia 29 de fevereiro.

Mas, retroagindo ao tempo, até 1829, quando houve a fundação de Juquiá, poderemos constatar que naquele ano o mês de fevereiro só teve 28 dias, pois o ano bissexto sempre é par. No entanto, a data da fundação de Juquiá foi registrada por nossos antepassados como tendo sido ocorrida no dia 29 de fevereiro de 1829. Portanto, quem registrou a data cometeu um grave erro. Resta-nos a dúvida, pois, respeitando as definições do nosso calendário gregoriano, diante desse grave erro, o dia certo da fundação de Juquiá deve ter ocorrido a 28 de fevereiro ou 1º. de março, de 1829.


Faltam registros

Diante dessa incoerência de datas fomos pesquisar o acontecimento no Livro Tombo da Basílica de Iguape. E, em ordem cronológica, encontramos as seguintes informações. Como já foi citado, em 09 de janeiro de 1829 o Bispo de São Paulo, Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, baixou uma portaria que deveria ser obedecida por Iguape, “(...) na qual manda ao vigário da Vara desta Vila que vá ao Rio Juquiá criar ali hua Capella Curada”. Preparou-se, então, o padre, João Crhysóstomo, Vigário Colado à Matriz de Iguape para cumprir aquela missão. Cumprido o que lhe fôra ordenado, o padre João Crhysóstomo registrou:

“Tendo o Vigário da Vara dezempenhado a Comissão supra determinada, como participando o Exmo. he Rvmo. Prelado em data de 8 de 7bro. (08 de setembro – o grifo é nosso) do anno de 1829, possa agora fazer a seguinte declaração, ou termo sobre a mencionada Capella do Rio Juquiá”.

“Aos dez dias do mês de Outubro de mil oitocentos he trinta no Rio Juquiá, no lugar denominado Pedroens do Pôzo Alto (...), havendo cellebrado a primeira Missa no mencionado dia dez.(...)”

No Livro Tombo de Iguape nada consta sobre o dia 29 de fevereiro de 1829 como a data da fundação de Juquiá ou da visita e escolha do local para a ereção da Capela. E, como foi descrito acima, o único registro encontrado em ordem cronológica nos diz que em 08 de setembro do ano de 1829 o vigário João Crhysóstomo desempenhou a comissão determinada pelo Bispo de São Paulo, escolhendo um lugar adequado e mandando que ali se construísse uma capela.

O Livro Tombo da Igreja de Juquiá, desde a sua fundação até o ano de 1940, desapareceu misteriosamente, não nos deixando condições para pesquisar o fato. Contudo, a própria Diocese de Registro mantém um depoimento “feito de boca” por um antigo morador de Juquiá, que foi seguido à risca. A esse comentário, não sabemos como, pois nada descobrimos em nossas pesquisas, acrescentou-se um dia que nunca existiu no calendário, ou seja, o dia 29 de fevereiro do ano de 1829. Esta data, que nos parece ser aleatória, determinou o dia da fundação de Juquiá. O registro “feito de boca” constou no Boletim Diocesano nº. 57, de Registro, publicado em junho de 1983, encerrando o que somente “se disse”, e foi relatado por outro dos ancestrais de Felipe Fernandes, o irmão do senhor João Cândido da Silva, e nele se encerra:

“O senhor José Fernandes da Silva, antigo morador de Juquiá, conta o seguinte:Na metade do século passado os irmãos Fernandes – filhos de Fernando Gomes – embarcaram numa canoa, em companhia de um Padre, e saíram à procura de um lugar apropriado para construir a Igreja de Santo Antonio. As famílias daquele tempo se preocupavam muito para ter uma Igreja onde o Padre pudesse rezar a Missa e na qual eles pudessem fazer suas devoções, como sinal de sua fé profunda em Deus. Acharam bom o lugar onde se encontra hoje a Matriz. A área pertencia a Felipe Fernandes, filho de Fernando Gomes, que estava na comitiva. O senhor Felipe Fernandes declarou, na ocasião, que doava de bom grado, estas terras para a construção da Igreja de Santo Antonio”.

Portanto, também não existe neste depoimento a data da fundação de Juquiá ou o dia em que se deu a visita do vigário. Diante da discrepância calendárica a respeito da data e a falta de comprovação ao “29 de fevereiro” em todos os registros até aqui encontrados, havemos por bem que a data da visita paroquial para escolha do terreno, onde posteriormente foi construída a capela, tenha se dado “(...) em 8 de 7bro. do anno de 1829”, como assim registrou o padre João Crhysóstomo. Entretanto, segundo relatos de João Cândido da Silva, também descendente de Felipe Fernandes:

“(...) naquele dia, a comitiva sacerdotal de Iguape, que procurava um local para construir a capela e estava acompanhada pelos membros da família Fernandes, aportaram em uma bela praia de areias muito brancas, em frente a uma lagoa que era adornada por bonita ilha. Desta praia avistaram um morrote recoberto por densa mata virgem, onde habitavam muitos pássaros e vários animais, inclusive onças. O padre da comitiva encantou-se com o local e pediu que os Fernandes abrissem uma picada até o topo do morrote. Aberto o caminho pelo meio da mataria fechada o grupo chegou ao cimo desejado. Então alguém subiu em uma árvore e, lá de cima, comunicou ao padre que a visão era esplendida e que alcançava todo o Rio Juquiá, acima e abaixo. Satisfeito, o padre mandou abrir uma clareira e confeccionar uma provisória e tosca cruz, que foi erguida e benzida pelo sacerdote. A comitiva se ajoelhou e um breve culto foi realizado, abençoou-se o lugar escolhido, que foi prontamente doado por Felipe Fernandes”.

Muito interessante é o registro de Stokler que, em tudo, ratifica o depoimento que o senhor João Candido da Silva fez quase 180 anos depois. As histórias contadas, de geração em geração, pouco diferem dos reais acontecimentos da época.

“Paramos nu’a praia mui bonita maes hum poucco adeante do outeiro por não ter antes bom porto em frencte. Pedio o vigário abrir a mata e por alli subimos ao logar que de sima nada se via de vista porque a mata era mui feichada. O senhor Matheus Mandro subio num pao de figuera mui alto attendendo pela vontade do vigário de lá communicar a todos que a visão do rio prommetia de ser larga para a esquerda e dereita e de frencte sepodia ver as matas até as serras destantes. Abriusse hu’a clareira na mata no alto daquella elevação e fizemos alli a construcção de hum bom madeiro lavrado a machadim para o cruzeiro que levantamos”. Stokler – 1829.

“O vigário revestio a acção de graça hu’a oração de protecção ao logar para todo sempre ao senhor bom Deus que rezamos em curto tempo e de joelhos. Terminada a benção daquelle logar escolhido voltamos morro abaixo para a caza de Felipe Fernandes e seo pae. Do lado do outeiro encontravasse a lagoa da isla donde enterramos os dous corpos alli encontrados de pessoas estranhas ao logar que o vigário abençoou e deo uncção por achar terem coração e alma cristãn e foi elle despos satisfeicto de volta para o Iguape com o achado terreno da capella mandando aos nossos que construissem a capella e a elle voltassem a clamar quando promptifficada estivesse”. Stokler – 1829.

Antes da construção da Capela não existia um definido núcleo de povoado, pois os moradores instalavam-se ao longo do Rio Juquiá e seus afluentes. Após a construção da capela, com a sua Primeira Missa Oficial sendo realizada em 10 de outubro de 1830, iniciou-se, de fato, embora muito lentamente, o povoado da Freguesia de Santo Antonio do Rio Juquiá. Em razão destas versões e por falta de comprovação de outra data, visto que o dia “29 de fevereiro de 1829” simplesmente nunca existiu, o verdadeiro dia da Fundação de Juquiá deve ser comemorado a 08 de setembro de 1829, data da benção e culto pela escolha do local, ou a 10 de outubro de 1830, data da Primeira Missa, já na Capela de Juquiá!

Obs: Relatos da Obras e histórias de Juquiá.
Historiador Hermann Volpert.
Um historiador que procura a anos encontrando relatos relacionado a nossa história que ao contrário do que muita gente possa imaginar é fantástica.

20 comentários:

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